terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Calar-se


Palavras, milhares de sílabas, sons, significados.
Porém, nada se compara a imensidão de lados que tem os versos de milhares de poemas não recitados.
Como mudos tagarelos,
que com alguns gestos podem contar coisas de significados dos mais belos.
Ou como os mímicos talentosos,
pinturas que se movem,
e que mesmo sem nada falar, milhares podem representar, imitar.
Nos fazendo risadas dar, ou lembranças recordar.
É como o som do mais doce violino,
que com poucas e suaves notas,
nos transporta para os mais agradáveis pomares,
que nos faz voar como as mais rápidas aves,
sentir os mais fortes ventos, respirar os mais puros ares.

Não falar, pode ser o maior discurso a se passar.
E um gesto, pode ser a razão para que um alguém  possa se levantar.
Não falar, pode ser aceitar.
E  um gesto, pode com tudo começar, mas também com tudo terminar.
Sem falar, conquistamos com um olhar.
Com um gesto, podemos as vezes milhares salvar.

Felizes, são aqueles que discutem e vencem,
sempre à debater e à falar.
Mas, felizes mesmo, são os que sabem se calar.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Subsolo do Brasil


Lágrimas, revoluções, tiro, discussões, morte, decepções;
este é meu mundo, realidade dói e vai rasgando corações.
Normal é imaginação e ideias a mil,
mas minha infância foi na mais bela favela do grande Brasil.
Religião, falsa esperança, cega confiança,
mas o que posso dizer?
Passei dos 16, tenho só que agradecer,
não tenho o quê comer, mas do que adianta ter?
Se amanhã já nem sei se ainda vou viver.


Cabeça erguida, vivo sempre o presente,
sem olhar para o passado,
pois onde eu moro quem pensa muito tá ferrado.
Não olho pro futuro,
pois o que vejo é só um furo. Um buraco.
Pois se eu viver já vou tá no fundo do poço,
pro Brasil é um desgosto,
mas vai morar num lugar onde na rua ninguém mostra o rosto.


Todos falam como se soubesse,
como é morar num lugar onde junto com a noite, o medo também desce.
E continua, pela madrugada,
mãe chorando por ter uma filha drogada;
chacina, muitos tiros e a rua pelos corpos foi tomada.
 É, pode crer,
mesmo você, que se diz cabeça firme, que não pode ser influenciado,
se tivesse aqui se vendia pra comprar do nosso baseado.


É, infelizmente esse aqui é meu lugar,
só quando morrer que vou poder respirar, descansar.
E finalmente poder sonhar,
pois nesse mundo de "realidade",
ninguém olha pro lado,
muito menos pro meu subsolo de verdade.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Silêncio libertino

Hoje, o silêncio é a única coisa que me resta.
Largada proximo às garrafas do esquecimento.
Das garrafas do sofrimento.
Das garrafas que me fazem delírios ter,
e prazeres ver, no meio do meu eterno sofrer.


Silêncio, melodia de grande harmonia,
música de perfeita sinfonia.


Silêncio, fortes palavras no ar,
fazendo o mais bravo de todos se calar.


Silêncio, frieza no total calor,
maior demonstração de amor.


Silêncio, um discurso aos berros do sofrer,
e só os poucos que ouvem, podem ver.


Silêncio; ilimitado.
ação de milhares significados.


E hoje, neste silêncio, nesta noite de puro breu,
saio levando tudo o que é meu.


Hoje, nesta bela noite,
hoje, neste maravilhoso silêncio,
hoje, no maior bom senso,
está certo.
Hoje, eu me liberto.

Sozinhos

Todos precisam de um sonho para sobreviver,

mas nós não nos permitimos sonhar,

e eles não nos deixam esperanças guardar.

Nos fazendo prisioneiros em nosso próprio lar,

nos fazendo lembrar de que estivemos, estamos, e sozinhos sempre vamos estar.

Sem ninguém para amar ou ser amado,

pelo simples fato de que nada está, nem nunca estará, do nosso agrado.

Muitas vezes desprezamos nobres sentimentos,

um olhar, um tom de voz, um beijo de boa noite,

coisas que dizemos ser parte de nosso fatídico dia-a-dia, sem sequer imaginar quantos milhares de seres humanos sonham com um dia isso alcançar.

Mas mesmo assim, com carinho ou sem carinho,

todos nós, seres, se sentem quase a todo momento sozinhos.

Hoje é assim.

E como todos os dias serão,

inverno ou verão, primavera, outono, em qualquer estação.

E o irônico é que todos nós, todos os seis bilhões e novecentos milhões de seres humanos, assim se sentem.

Sozinhos. Mesmo com tantos a nossa volta.

Sozinhos. Formando uma grande escolta.





Tristinhos, mesquinhos, sozinhos.

De novo, continuo

De novo me encontro nesse inferno de discussão,
de novo me encontro com o coração na mão.
Agredida novamente, fisicamente, verbalmente; infelizmente.

De novo choro por dentro, e por fora.
E de novo, de nada isso adianta.
De novo rezo para que eu morra naquele instante, para que eu não precise mais ficar nessa situação agoniante.


De novo estou aqui, no fundo do poço.
De novo sinto que sou apenas pele e osso,
pois tudo o que havia dentro de mim foi arrancado, triturado e queimado.

De novo sinto meus olhos arderem de lágrimas.
De novo minha língua pingando de ódio.
De novo minhas mãos se fecham para atacar,
mas volto atrás, e continuo a me calar.

De novo, escolho nada falar.
E de novo abaixo minha cabeça para me retirar,
e continuar a trabalhar.